terça-feira, 6 de maio de 2014


Entre Vírgula(s), cordas e fitas..'


Virgulino, cangaceiro, calça, camisa, vestido, renda, meia, perneira, chapéu, carapuça, aba, testeira, bica, barbicacho, matame, cantil, caneca, rapadura, carne seca, cartucheiras, luvas, cantil, anel, trancelim de ouro, jabiraca, alpercata, fuzil, espingarda, bala, punhal, combate, bando, bornal, chincha, mochila, bordados, quixabeira, couro, arreiado, botada, brigada, carrego, costureira, coito¸coiteiro, corta rastro, pegadas, volante, solas invertidas, papo de ema, rastejador, rua, russeio, torneira, tracação, melodia, xaxado, prosa, poesia, flores e fé. E nesse circuito fechado, a indumentária do cangaço se torna imponente. Eis a concretização de uma nobre camuflagem, um estardalhaço visual, verbal, que ocorre “Entre Virgula(s), cordas e fitas. E...
Se Cordel vem do Galego
Este vem do Latim,
Vou cantar ainda melhor
Pra ninguém achar ruim.
Porque Cordel é cordão,
Barbante ou trancelim.
(...)
O Cordel veio da Europa
Com a poesia e repente.
Quando surgiu a imprensa,
Foi escrito para a gente
O que se falava e cantava
Na inspiração corrente.
[...]
(MAXADO, 1982)
Das rimas, enredos,(des)enredos e xilogravuras, o embrenhamento cultural surge sutilmente, de forma intrínseca e peculiar a literatura de “cordel-cangaço” penetra delicadamente em nosso cerne e nos leva a perceber caminhos (as veredas); as intertextualidades; o misticismo; peripécias, personagens alegóricos, temas, o popular e o erudito, os Virgulino(s), as Virgula(s) e reticências da literatura de cordel.
Nessa intensa construção poética, somos desafiados a adentrar profundamente nos engenhos da linguagem,:

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
(Fragmento de Procura da poesia, Drummond)

E, apropriando-se da pluralidade do cangaço, teremos que trazer as chaves, e vir In media res como no tempo da obra, para que encontremos primeiro as portas, as veredas, atravessando assim o labirinto, atravessando a própria existência e o mundo místico desse “mundoS” chamado sertão, que é plural, cangaço, popular, que é literatura de cordel:

“... um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado sem limites, porque é apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois”.
Walter Benjamin

Literatura que está em toda a parte, em todo o sertão, “o serTÃO literário está em toda parte” alicerçado em um verdadeiro labirinto linguístico, místico e infinito, onde o engenho da linguagem vai sendo construído de forma intensa, poderosa e universal através de Virgulino, virgulas, reticências e pontos que não são finais, diria ainda de forma pretensiosa e com toda licença poética deste mundo sertanejo, que a Literatura é muito mais que um mundo, é um ‘mundos’: hermético, transgressor e acima de tudo, “transcendental”

(Robson Farias)


                                           
















Seguidores