quinta-feira, 25 de março de 2010

Um pouco de História da Química

A química medicinal no século XVII: Glauber e seu sal miraculoso.

Johann Rudolph Glauber (1604-1670) foi possivelmente o químico prático mais produtivo do século XVII. Tendo nascido no que seria a atual Alemanha, ele foi como Paracelsus, um misto de médico, químico e alquimista. Sua intenção parece ter sido voltada para a química após ter melhorado de uma febre, graças ao uso de águas minerais. Sua obra mais conhecida, a Opera Omnia Chymica (Amsterdam, 1661) constituía-se em uma espécie de enciclopédia de química pura e aplicada. Sua importância para a química pode ser avaliada na alcunha de “o Boyle alemão” que receberia. Alguns o consideram químico experimental do século XVII.
Dentre suas inúmeras contribuições para a química sintética, Glauber desenvolveria, em 1648, um método para a preparação de Ácido Nítrico, mediante o aquecimento de nitrato de potássio na presença de Ácido sulfúrico. Glauber prepararia ainda muitos cloretos e nitratos metálicos, além de produzir líquidos (mediante a destilação da madeira, do vinho e de óleos vegetais) que continham substâncias como acetona e benzeno, muito embora não os tenha isolado e identificado.
Como hábil químico experimental Glauber, sintetizaria muitos compostos (foi o primeiro a preparar ácido clorídrico), como o tricloreto de arsênio, o acetato de potássio, o permanganato de potássio e o sulfato de sódio decahidratado: Na2SO4.10H2O.
Este último, acreditava Glauber, teria propriedades curativas, sendo uma espécie de “remédio universal”, inferior apenas ao elixir da longa vida. O sulfato de sódio passaria então a ser conhecido como Sal de Glauber ou, segundo Glauber, sal milagroso (sal mirabile). Glauber o extraiu pela primeira vez do mineral que hoje chama-se glauberita (sulfato de sódio e cálcio: Na2(SO4)2 ).
A despeito de sua visão com relação aos usos e aplicações econômicas do conhecimento químico, Glauber morreria em Amsterdam, pobre, exibindo sinais de contaminação por mercúrio, arsênio e antimônio.
O sal de Glauber tem, modernamente, diversas aplicações, tais como no processamento de polpa de madeira para produção de papel Kraft e produção de vidros e detergentes. Atualmente, sua obtenção em escala comercial dá-se como subproduto da produção de ácido clorídrico a partir do cloreto de sódio e ácido sulfúrico, bem como pela evaporação de algumas águas naturais. É ainda encontrado no mineral thenardita.
Embora não seja dotado de propriedades medicinais tão extensas a ponto de merecer, modernamente, a alcunha de sal mirabile, o “sal miraculoso” de Glauber é muito utilizado, ainda hoje, para fins terapêuticos, tais como antiinflamatório e diurético. Um dos seus usos mais comuns é como laxante, sendo que um dos produtos comercializados faz alusão ao nome do seu descobridor (“Glauberina”, do Laboratório Madrevita).

Texto extraído do livro: NEVES, Luiz Seixas; FARIAS, Robson Fernandes; História da Química: Um texto para graduação. Campinas, SP: Editora;1º Ed. Átomo, 2008.

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